A movimentação de caminhões nas rodovias com pedágio, índice historicamente atrelado à atividade industrial no país, vem dando sinais de perda de fôlego há nove meses. No fim do ano passado, o forte crescimento médio registrado a cada mês desde 2010 (na comparação com um ano antes) começou a se esgotar e deu lugar a uma estabilização. Agora, pela primeira vez em mais de quatro anos, o fluxo médio dos veículos pesados já mostra retração.
Para identificar as tendências nas estradas, os analistas do setor costumam estudar o indicador da média móvel semestral - que é o movimento de seis meses terminados em cada medição -, por sofrer menos variações sazonais de cada mês. Esse indicador mostrou seu pico de crescimento mais recente em setembro de 2013 - com 4,38% de variação contra um ano antes. Depois, só houve números menores. Em janeiro deste ano, o movimento médio de caminhões subiu 1,47% em relação a um ano atrás. De fevereiro a abril, os números foram de 2,05%, 1,44% e 0,32%.
O cenário virou e ficou pior na medição de maio: houve queda de 0,11% na comparação com o mesmo mês de 2013. Foi a primeira vez desde dezembro de 2009 que um número negativo foi registrado na variação do movimento médio de pesados. Em junho, o indicador caiu ainda mais: menos 1,6% contra um ano antes.
Outros números reforçam a tendência. O fluxo de pesados só no mês de junho foi 4,3% menor do que em maio. Contra um ano antes, houve retração de 7,8% (os leves continuam em alta: crescimento de 0,4% em um mês e de 4,4% em um ano). "A queda dos pesados se intensificou e as razões continuam as mesmas: atividade industrial fraca, com o desempenho ruim do setor automotivo, que sofre com um quadro fraco de vendas no mercado interno e externo, agravadas pela crise dos pagamentos das dívidas e situação econômica da Argentina, importante parceiro comercial do Brasil", afirma Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, em nota.
Outro fator apontado pela Tendências para a retração dos pesados foi a diminuição dos dias úteis de junho por conta da Copa do Mundo, o que limitou a atividade industrial. Mas, de qualquer forma, a perda de fôlego dos pesados é registrada há mais tempo.
A situação poderia ser ainda mais preocupante se não fossem algumas medidas adotadas pelo governo do Estado de São Paulo a partir de julho de 2013, que autorizou a cobrança de eixos suspensos de caminhões e impulsionou a medição de tráfego desde então. Como cada eixo conta como um veículo equivalente, os números sofreram um impacto positivo.
Nas estradas da EcoRodovias, por exemplo, o crescimento de veículos comerciais fora de São Paulo ficou entre 4,9% e 7,5% no primeiro semestre (contra um ano antes). Nas concessões paulistas, a variação foi de 7,5% a 12%. Na Triunfo Participações e Investimentos, que não tem estradas em São Paulo, o crescimento em cinco meses foi de apenas 3,2% contra um ano antes.
As empresas de logística negam que as alterações na cobrança de pedágio em São Paulo afetem o movimento nas estradas. "No nosso caso, estamos percebendo um terceiro trimestre aquém da expectativa", diz Oswaldo Castro Júnior, diretor-geral da empresa de logística Golden Cargo. "A gente analisou os contratos em relação ao ano passado e tem uma certa retração. Tem um desaquecimento, há vários setores com demanda contraída", diz Osni Roman, presidente da Coopercarga.