A vida de caminhoneiro não é fácil, a profissão é sofrida, solitária e as estradas nem sempre ajudam. Mas algumas pessoas costumam tirar de letra. Evaldo Linhares é um desses guerreiros da estrada, que lutam diariamente nas boleias dos caminhões em busca de mais qualidade de vida para a sua família.
Natural da cidade do Crato, no Ceará, Evaldo reside atualmente em Patos, interior da Paraíba. Filho de caminhoneiro herdou não apenas a profissão, mas também o amor pelo caminhão, sentimento cultivado pelo pai falecido há aproximadamente seis anos.
Evaldo Linhares sonhava em ser médico veterinário, mas a vida o encaminhou para as estradas. Ele começou acompanhando o pai e aos poucos foi ficando independente. Quando o pai precisou deixar a direção por motivos de saúde, ele assumiu. Hoje é casado, pai de dois filhos e com a remuneração adquirida com o caminhão ele contribui com as despesas de casa.
Na reportagem especial em comemoração ao dia do caminhoneiro, Evaldo falou da experiência adquirida nos 16 anos de profissão. Ele abriu seu coração,falou sobre sonhos, medos, expectativas. Confira abaixo a entrevista na íntegra:
FECONE: Qual o maior período que passou na estrada e o que mais gosta na profissão?
EL:O maior período que passei foram três meses. E a questão da remuneração imediata é um dos pontos mais positivos da profissão.
FECONE: Quais as maiores alegrias e tristezas que a profissão de trouxe?
EL: A oportunidade de adquirir bens necessários para o conforto da minha família e educação de qualidade para os meus filhos é motivo de muita alegria para mim. Mas a estrada às vezes é traiçoeira e quando perdemos um colega de profissão a tristeza nos invade. A solidão também me deixa muito triste, mas tem um lado positivo, ela me aproxima de Deus, eu rezo muito e peço proteção divina. O trabalho e a fé em Deus me movem.
FECONE: Quais os maiores desafios da estrada?
EL: Sem dúvida o medo de acidentes, a falta de segurança e de infraestrutura das rodovias.
FECONE: Quem te iniciou na profissão de caminhoneiro?
EL:: Meu pai precisou se afastar do caminhão, ele ficou doente e eu assumi as responsabilidades.
FECONE: E você lembra de algum episódio envolvendo seu pai e o caminhão que marcou sua infância?
EL: Me lembro da alegria de ver o meu pai chegando a cada viagem e nos abraçando. Lembro também da primeira vez que ele deixou que eu dirigisse o caminhão, quando eu era criança. Isso foi inesquecível e me ensinou a valorizar a minha família acima de tudo.
FECONE: Como você administra a distância da família?
EL: Eu procuro estar presente diariamente com telefonemas, e aproveitando ao máximo os finais de semana que fico em casa para me divertir, ir à missa com a família, enfim é uma relação de amizade e companheirismo, mesmo nos momentos em que me encontro ausente. Já me adaptei a administrar tudo com minha esposa e ficar monitorando as decisões através dos telefonemas e ou mensagens de assuntos urgentes. Com muita preocupação pensando sempre no bem estar de todos.
FECONE: Você se sente sozinho nas estradas?
EL: Demais.Principalmente no período noturno.
FECONE: Dá pra cuidar da saúde na estrada?
EL: Dá sim, procuro me alimentar de forma mais saudável, usar protetor solar, fazer uma caminhada nos intervalos entre os fretes, faço exames de rotina periodicamente, procuro não consumir bebidas durante o trabalho, não utilizo drogas, não fumo, porém admito que preciso de mais tempo para cuidar melhor da saúde do corpo. Passo horas no volante e isso me deixa sedentário.
FECONE: Qual nota você daria para as estradas do Brasil?
EL: Daria nota 6.
FECONE: Você acha que a classe de caminhoneiro é reconhecida no Brasil?
EL: Não, há uma desvalorização muito grande, também muita discriminação com a classe de caminhoneiros. Apesar de ser uma profissão importante para o progresso do país, é muito arriscada e sofremos muito na estrada.