Ter um sistema de transportes verdadeiramente intermodal é apontado como algo indispensável para a economia de qualquer país. Mas não importa quantos aeroportos, quantas linhas férreas e estações de trem ou quantos portos entrem em operação, o uso de caminhões – dos mais diversos portes e com as mais diversas funcionalidades – é sempre fundamental.
Questionada sobre como seria um país sem a atividade, a caminhoneira Gilvana de Souza (foto - arquivo pessoal), 28 anos, foi enfática: “simplesmente não existiria”. Isso porque os caminhões são essenciais tanto nas entregas urbanas, no porta a porta, como entre os próprios modais de transporte existentes. O avião, o trem ou a embarcação, por exemplo, sempre necessitam da carreta para que a carga chegue até eles. E também para que seja levada das estações, portos e aeroportos até o destino final.
gilvana ok.jpgAlém disso, mudanças no comércio, na indústria e na agricultura também interferem em exigências diferenciadas do transporte rodoviário de cargas. Cada supersafra agrícola, por exemplo, demanda mais e mais profissionais das estradas para levar a produção do campo aos portos ou às ferrovias. Sem caminhão, não há prateleira cheia nos supermercados ou nas lojas. E até o conforto de comprar pela internet ficaria prejudicado. Para se ter uma ideia, 40 milhões de novos consumidores devem aderir ao e-commerce nos próximos três anos no Brasil, totalizando, assim, 53 milhões, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. A demanda reflete no transporte rodoviário de cargas. Afinal, como as compras poderão chegar às casas de tantas pessoas sem passar pelas rodovias?
O vice-presidente de marketing da Associação Brasileira de Logística (Abralog) e consultor na área, Edson Carillo, também ressalta a conclusão da motorista: “apesar de existir outros modais de transporte, não se consegue chegar ao destino não sendo por meio do modal rodoviário”. E isso é em qualquer país e mesmo que se façam mudanças. “Ainda que eu consiga fazer o melhor dos mundos, eu sempre vou precisar do transporte rodoviário”, ratifica o consultor.
No Brasil, essa condição é ainda mais evidente, uma vez que o sistema de transporte é essencialmente rodoviário. Afinal, são mais de 1,7 milhão de km de rodovias que cortam o país. E quanto mais aquecida a economia, maior é o fluxo de caminhões Brasil afora. Para se ter uma ideia, somente em 2013, a produção desses veículos cresceu 43%, totalizando 190,3 mil unidades, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Para Carillo, o modal rodoviário ainda apresenta outras vantagens em sua essencialidade, como a competitividade em relação a percursos de até 500 km e à sua versatilidade e flexibilidade. No caso de se transportar uma carga via modo aéreo, por exemplo, há o deslocamento até a zona de transferência, as formalidades que o modal requer, a adequação do embarque em determinada aeronave, todo o tempo que leva até o embarque, o modo combinado de cargas desacompanhas e acompanhadas que pode obrigar o descarregamento devido a prioridades existentes, entre outras questões. Segundo ele, dependendo do destino, pode-se gastar o mesmo tempo para o transporte via rodovia ou avião.
“Na verdade, é como uma cadeia alimentar, em que um precisa do outro para sua sobrevivência”, compara Gilvana. Segundo ela, o aquaviário, o aéreo ou o ferroviário, por mais eficientes que possam ser, sempre dependerão do rodoviário. “Pode vir pelos ares ou pelos mares e, ainda assim, a carga vai passar pela rodovia”, destaca.
Foto: INFOLOGIS